quarta-feira - 23 de setembro de 2020

A realidade do comércio paranaense na pandemia do ponto de vista de Camilo Turmina

O ano de 2020 certamente será inesquecível para o comércio. Em meio a uma pandemia mundial, os profissionais desse setor tiveram que contornar, se reinventar e literalmente sobreviver para passar por tudo. Para trazer a visão do setor e de tudo que vem acontecendo no país, o Portal Cessão de Créditos conversou este mês com Camilo Turmina, empresário do ramo joalheiro e atual presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).

Parceira do comércio há mais de 130 anos, a ACP conta com mais de 30 mil associados diretos e indiretos. A associação tem como principal desafio atender desde micros até grandes empresas, visando oportunidades e avançando em melhorias.

Confira abaixo como foi a conversa com o empresário.

Portal Cessão de Créditos: Qual a sua visão com relação à crise sobre o comércio paranaense? Como ela tem afetado os comerciantes?

Camilo Turmina: O grande prejuízo da crise do coronavírus foi no comércio não-essencial. Quase todo o segmento comercial do Paraná perdeu 45 dias de trabalho, em média. Com isso, os clientes acabaram afungentados e as vendas foram reduzidas pela metade.

Por exemplo: antes, as pessoas tinham festas, eventos, glamour. Por conta de tudo isso, agora há menos procura por um sapato novo ou de um vestido novo. Já perdemos mais de mil empresas no estado do Paraná, certamente por conta dessa pandemia. Mas se não fosse o auxílio emergencial do governo, a postergação do recolhimento de tributos e, em especial, a suspensão de contratos de trabalho, estaríamos em uma situação muito pior.

Portal: A inadimplência dos clientes está cada vez maior, ainda mais agora na crise do coronavírus. Como você vê essa situação depois que o governo federal parar de liberar o auxílio emergencial?

CT: A inadimplência aumentou muito. As pessoas ficaram muito impactadas, pois perderam a renda e a força de compra. Quando o contrato de trabalho é suspenso ou quando a jornada é reduzida, impacta numa menor renda. Então, as pessoas vão consumir menos e as empresas vão vender menos.

Quanto ao auxílio emergencial, ele é apenas para emergência, como o nome já diz. Serve para algumas coisas como pagar a conta de luz, comprar o gás, um medicamento, um mantimento… Enfim, se manter vivo. Mas não pode ser considerada uma renda que vai fazer com que os segmentos de toda a economia possam vir a crescer. Só impactou menos a pobreza.

Nós percebemos um aumento da inadimplência generalizada. Posso dizer que ela quase dobrou aos índices normais que era. Ou seja, mais gente ficou devendo para alguém.

Portal: As Linhas de Crédito podem ser uma boa saída para as empresas neste momento, certo? Os associados da ACP optam por essa alternativa para terem um fôlego no fluxo de caixa?

CT: Houve overbooking nos bancos, especialmente no Banco Fomento, bancos de cooperativas de crédito e bancos com juros menores. Só para citar, a Fomento, que atendia 200 a 300 contratos por mês, passou a ter demanda de mais de 10 mil contratos, todos pedidos de financiamentos. Isso mostra que a busca por recursos foi muito grande. Essa pandemia realmente levou muita gente a isso.

O Sebrae tem um projeto, a Garante Sul, uma garantidora de crédito, que dá uma carta de crédito aos empresários. É tipo pegar dinheiro consignado. Com essa carta, eles vão até o Fomento Paraná ou cooperativas de crédito, como o Sicredi, e solicitam empréstimos a juros menores, porque, afinal de contas, não precisa de um aval – a Garante Sul garante 85% do valor, então o banco perde pouco, se houver inadimplência. Isso permite juros mais baratos ainda. E houve uma demanda incrível, nós aumentamos em 300% a procura por cartas de crédito nesses meses de pandemia.

Então o empresário teve que se financiar buscando dinheiro no banco sim. Não houve outra modalidade, nem mesmo vendendo bens. Esse foi o caminho dos empreendedores para manter os seus negócios.

Portal: Como os comerciantes estão lidando com as constantes mudanças nos decretos a respeito de horário de funcionamento por causa da pandemia? De que forma isso impactou nas vendas para as datas comemorativas deste ano, como Dia das Mães e Dia dos Pais? Você acha que algumas campanhas de marketing, como a Semana do Brasil e a Black Friday, podem ajudar de fato na recuperação do comércio?

CT: Esses decretos são meio fora da realidade. Quando se fala em Dia dos Pais, nós mantivemos Curitiba fechada, mas a Região Metropolitana abriu no sábado que antecedeu a data. Quero dizer, isso aí foi inteligência de gestão? O coronavírus não atravessou fronteira de municípios? Falta bom senso.

No comércio, hoje, há uma liberalidade para abrir a loja até as 20h. É evidente que os empresários trabalham só até as 18h, principalmente os que são não essenciais, até porque abrir mais do que isso não há necessidade. Se estamos vendendo metade, por que eu tenho que trabalhar o dobro?

Quanto às ações de venda, se tiver produtos em ofertas, as pessoas vão fazer um esforço e vão comprar. Afinal de contas, se o dinheiro tiver no tamanho da vontade dela de comprar, ela não vai resistir, vai adquirir qualquer item. Então, a Black Friday vai bem, essa Semana do Brasil também foi excelente, pois despertou interesse nas pessoas em verem coisas possíveis de serem compradas por um preço menor.

Qualquer força de vendas ajuda. Ajuda e impacta bem, cria uma sinergia para as pessoas se animarem e irem às compras.

Portal: Para finalizar, qual a sua opinião sobre o futuro da economia do Brasil?

CT: Nós temos um poder incrível de produção. Somos hors concours no agronegócio e na pecuária. Somos estrategistas de primeira grandeza. O país agora criou uma política fiscal cambial fantástica. Então, assim, o País vai bem, o povo que vai mal.

O desemprego deve crescer, já que nem todas as atividades econômicas que já existiam vão voltar ao seu normal. Segundo o próprio Sebrae, 90% dos empregos no País estão nas pequenas e médias empresas. Estão na mão de empreendedores, de empresas individuais. É gente que faz a diferença. Basta dizer que tinha 70 milhões de brasileiros pedindo auxílio emergencial; isso significa 70 milhões de empreendedores que estão todo dia ganhando a vida vendendo coisas.

O que me preocupa é que deve impactar em violência. Quando a fome vier e bater pesado, pode ocorrer distúrbios maiores do que nós já vínhamos registrando. Também temos, por parte de um governo que não ajuda muito, políticas de desorganização da economia, permitindo que qualquer prefeito possa comprar e gastar dinheiro do Covid-19 a seu bel-prazer.

Então, urgentemente, precisamos criar mais empregos, mais trabalho. Com crédito barato, os empresários vão voltar a empreender, vão voltar a trabalhar, vão criar condições de emprego. Nós vamos consumir mais e tudo vai voltar ao normal – e aí nós vamos crescer. Temos bons economistas técnicos no governo federal que conseguem vislumbrar alternativas para que nós coloquemos a economia nos eixos.

O Brasil é um país incrível, de muitas oportunidades, e nós só temos a expandir e criar felicidade aos nossos contemporâneos, ao nosso povo.


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