quarta-feira - 24 de junho de 2020

O futuro do mercado de cessão de créditos na visão de Salvatore Milanese

Poucos nomes são tão marcantes como o do nosso entrevistado de hoje: Salvatore Milanese. Sócio sênior da Pantalica Partners, ele possui mais de 20 anos de experiência nas áreas de turnaround/reestruturação de empresa e investimentos em carteiras de créditos inadimplidos.

Sua bagagem profissional conta com uma mescla de títulos e experiência. Graduado em Banking Finance na Universidade de Messina-Italia; Milanese tem ainda MBA em Banking and Finance no CUOA-Vicenza (1997); diversos cursos na área de Liderança e Gestão, Administração e Controladoria de Bancos, Turnaround, Financial and Operational Restructuring, Crises Cash Management. Também foi ele que esteve por mais de 12 anos na área de Restructuring na KPMG Brasil. Além disso, a presidência da TMA Brasil Turnaround Management Association do Brasil (2010 a 2012), da qual permanece membro.

E com tanta experiência, o blog Cessão de Créditos escolheu ele como fonte para uma importante pergunta que todos querem saber. “Como será o futuro do mercado de cessão de créditos?” Confira o que o especialista nos contou!

Portal Cessão de Créditos – Para contextualizar nossos leitores, pode nos dar um breve histórico da Pantalica Partners?

Salvatore Milanese – A Pantalica Partners nasceu em 2014 da ideia de formar um grupo de pessoas com senioridade e experiência no mercado de Turnaround, Financial Restructuring e Special Situations. Com a experiência de 13 anos em big four tinha adquirido uma ótima visão metodológica e técnica de como servir os clientes neste mercado. Porém, a minha visão de colocar mais “mão na massa” e não ficar limitado no processo de assessoria aos clientes me levou a promover a construção desta boutique.

A Pantalica atua hoje junto aos clientes que precisam melhorar performance, reorganizar seus negócios e/ou reestruturar/renegociar suas dívidas junto a bancos e outros credores, tanto dentro, como fora de processos de recuperações judiciais e falências. Além disso, ajudamos clientes a comprar ou vender empresas em crise ou seus ativos, carteiras de NPLs (Non Performing Loans e /ou claims e precatórios. Somos uma dentre as 5 empresas mais conhecidas e mais ativas no segmento de Advisory para restructuring na América Latina, segundo a Debtwire.

Portal – Qual a expectativa para o próximo ciclo diante da pandemia que estamos passando?

SM – É importante ressaltar que o Brasil já vinha com uma carga de problemas importantes, frutos da recessão de 2015 e 2016, quando o PIB caiu por dois anos seguidos mais de 3% ao ano. Isso tinha acelerado o aumento de defaults nas carteiras dos bancos, as recuperações judiciais e falências dispararam e os negócios para investidores especializados se multiplicaram. Nesses anos de crise, de 2005 a 2019, o Brasil ou retrocedeu ou cresceu um pífio 1% ao ano. O estoque de NPLs vencidos de 90 dias a 360 dias nos balanços dos bancos se mantiveram ao redor de 3% do estoque de crédito total, que a sua vez cresceu em média meros 2%.

Tendo em mente esse cenário, com a explosão da pandemia prevemos um aumento das oportunidades para os investidores em distress e para quem assessora esses investidores. Os fatores que alimentarão o próximo ciclo serão:
1) a forte queda prevista na economia do Brasil. O Banco Mundial prevê -8% para 2020;
2) os efeitos perversos do isolamento em alguns setores específicos, como entretenimento, transporte aéreo, cadeia de valor do varejo não essencial, que podem impulsionar os pedidos de RJ;
3) a forte desvalorização do real que barateia ainda mais os ativos brasileiros;
4) a necessidade dos bancos de racionalizar a estrutura de recovery monetizando carteiras mais antigas e tentando preservar calotes mais recentes;
5) as baixíssimas taxas de juros alimentarão a demanda de ativos de maior risco, permitindo que dinheiro de Family offices e institucionais possa procurar fundos de distress buscando maiores yields.

Já no primeiro trimestre de 2020 a Serasa Experian nos sinalizou um forte aumento dos pedidos de RJs (recuperações judiciais) e Falências e o nivel de NPLs no sistema cresceu para 3,2%. Estimamos que esse ciclo possa durar para os próximos cinco anos, tento um pico em 2020/2021 e um tale (rabeira) nos restante 3 anos.

Portal – Como você vê especificamente o mercado de cessão de créditos não performados daqui pra frente?

SM – Como antecipado na pergunta anterior, estimamos que o volume de transações possa aumentar no futuro próximo. Não achamos que o aumento seja imediato, pois a confusão instalada pela pandemia até dificulta a logística das transações. O pricing e os bancos possivelmente querem ter mais clareza do efeito da pandemia nas carteiras antes de decidir, de vir ao mercado. Agora, quando a situação normalizar, os bancos virão ao mercado e terão muitos compradores. Da mesma forma terão muitos investidores interessados a fazer DIP Finance (financiamentos para empresas em RJs). Ou para adquirir precatório, ou ainda imóveis em distress nos balanços dos bancos. Nossa previsão é que a partir de 2021 os volumes de transações (em valor nominal) estarão beirando os R$50 bilhões ou mais por ano. Neste contexto prevalecendo transações em portfolios corporativos, SMEs, transações estruturadas / DIP Finance com empresas em crise e precatórios.


Quer mais informações sobre esse mercado no contexto pandemia? Leia agora o texto: “Relatório aponta que ativos problemáticos e inadimplência devem subir em razão da pandemia”.